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Os detalhes da estrutura da Cientologia ainda são pouco conhecidos apesar do seu cresciemnto nas últimas décadas.

Sabe-se que os responsáveis pela religião não poupam esforços para silenciar seus críticos, recorrendo a tribunais e lançando campanhas de propaganda.
Mas com a chegada da internet e as redes sociais, a tarefa de proteger a imagem da igreja tornou-se cada vez mais difícil.

Exemplo disso é a repercussão na internet de um documentário transmitido no domingo pelo canal de televisão americano HBO, no qual são feitas acusações sérias contra os responsáveis pela Cientologia.

O documentário é chamado Going Clear: Scientology and the Prison of Belief (Esclarecendo: Cientologia e a Prisão de Crença, em tradução livre), baseado no livro de mesmo título de Lawrence Wright, ganhador do prêmio Pulitzer.

Dirigido por Alex Gibney, que ganhou um Oscar em 2008, o documentário entrevista ex-importantes membros da Igreja que revelam, entre outros pontos, a alegada manipulação a que alguns seguidores são submetidos, incluindo nomes conhecidos, como os atores Tom Cruise e John Travolta.

O programa mostra também detalhes sobre o financiamento da Igreja e os supostos abusos físicos e psicológicos sofridos por membros.

A porta-voz da Cientologia Karin Pouw disse, há algumas semanas, em comunicado enviado à BBC Mundo - o serviço em espanhol da BBC - que "as acusações feitas no documentário são totalmente falsas e foram feitas sem pedir a versão da Igreja".

"A Igreja está comprometida com a liberdade de expressão. No entanto, a liberdade de expressão não dá carta branca para emitir ou publicar informações falsas".

Veja abaixo alguns dos detalhes sobre a Igreja da Cientologia revelados por entrevistados do documentário Going Clear.

1. Membros da Igreja 'são submetidos a abusos físicos e psicológicos'

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O documentário fala sobre a política de "desligamento", que obriga os seguidores da Igreja a cortar todo contato com família e amigos que deixam a fé.
Além disso, dá detalhes sobre o que é conhecido como 'The Hole' (o buraco), cativeiros onde, supostamente, são mantidos membros desobedientes do Sea Org - nome de um ramo que dirige a Igreja e que conta uma frota de barcos - e que seriam abusados física e psicologicamente.

Como o documentário explica, muitos membros da Sea Org trabalham em troca de uma salário baixíssimo. Dali controla-se a chamada Força do Projeto de Reabilitação, que possui campos de internação para onde são enviados membros da Cientologia que não cumprem as expectativas da organização e os que são forçados a trabalhar sem descanso.

Uma ex-membro da Igreja conta como, supostamente, foi obrigada a realizar "trabalho forçado" durante a gravidez. Ela diz que teve seu bebê levado e, em seguida, abandonado doente "em um berço coberto por urina, fezes e moscas."

Além disso, segundo o documentário, membros da Sea Org - que tem uma seção infantil na qual crianças começam a trabalhar desde cedo - são aconselhados a não ter filhos e, em caso de gravidez, o aborto é sugerido.

2. A Cientologia 'pressionou autoridades para ser declarada uma religião e não pagar impostos'


No documentário, afirma-se que L. Ron Hubbard - que é acusado de mentir sobre seu histórico no Exército dos EUA e de maltratar sua segunda esposa - decidiu criar a Cientologia para ganhar dinheiro.

A organização - que o Going Clear diz ter 50 mil membros - não paga impostos há décadas e deve centenas de milhões de dólares a autoridades.

No início dos anos 90, o atual líder da organização, David Miscavige, pressionou o IRS americano, órgão equivalente à Receita Federal brasileira, para conceder à Cientologia status religioso, o que a isentaria de impostos.

O programa diz que a Igreja entrou com mais de 2 mil ações judiciais contra funcionários do IRS e investigou a vida pessoal de muitos deles com detetives particulares.

Finalmente, em 1993, o IRS concedeu à Igreja a condição de religião, o que, segundo o documentário, permitiu que a Cientologia atingisse um patrimônio de US$ 1,5 bilhão.

3- Detalhes da religião 'são conhecidos apenas após o pagamento de milhares de dólares'

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Ao contrário do que acontece na maioria das religiões, membros na Cientologia só passam a conhecer detalhes do credo da religião aos poucos, e depois de pagar grandes quantidades de dinheiro, diz o documentário.

Eles têm de pagar por anos para subir dentro da Igreja e só quando atingem certo nível, conhecido em inglês como "Operating Thetan III", têm acesso a documentos escritos pelo próprio Ron. L. Hubbard.

Neles, há explicações sobre a história de Xenu, um ditador galático que há 75 milhões de anos trouxe milhões de pessoas à Terra em naves espaciais, depositando-as em vulcões e aniquilando-as com bombas de hidrogênio.

A Cientologia evita falar publicamente sobre Xenu. Em Going Clear, o cineasta Paul Haggis, que deixou a organização há alguns anos, conta que não era capaz de acreditar que esta história fizesse parte da tradição da Igreja.

4- A Igreja da Cientologia 'causou a separação de Tom Cruise e Nicole Kidman'

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Um ex-alto funcionário da Igreja conta como supostamente a organização não via com bons olhos a relação de Tom Cruise, seu membro de mais alto perfil, e Nicole Kidman, que estiveram casados entre 1990 e 2001.

É afirmado que a atriz era considerada uma "fonte potencial de problemas" por ter sido criada no catolicismo e ter um pai psicólogo - um dos inimigos da Cientologia é a psiquiatria.

Kidman teria sido, supostamente, investigada por detetives particulares e seu telefone foi interceptado a pedido de Cruise. A Igreja teria, ainda, tentado colocar os dois filhos adotivos do casal contra a mãe para que Cruise pudesse conseguir a custódia deles no caso de um divórcio.

Em Going Clear também afirma-se que, após o divórcio do casal, a igreja comprometeu-se a encontrar uma nova namorada para Tom Cruise, a também atriz Nazanin Boniadi.

5- John Travolta 'não deixa a Igreja por medo de que detalhes de sua vida pessoal sejam revelados'

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Os membros da Cientologia são regularmente submetidos a chamadas auditorias, confissões gravadas e nas quais explicam detalhes de sua vida pessoal. As sessões teriam o objetivo de encontrar a origem dos traumas que afetam uma pessoa.

Going Clear afirma que as informações obtidas nas auditorias são, então, usadas para "chantagear" membros descontentes com a organização.

Esse seria o caso do ator John Travolta que, alega-se, não deixa a Igreja por medo de que detalhes de sua vida pessoal sejam revelados.